26 maio 2011

2001: Uma Odisseia no Espaço [1968]


Sempre afirmo que meu filme favorito é 2001: Uma Odisseia no Espaço. E o motivo é simples. Foi a obra que me ensinou o que é cinema.

Tinha 13 anos e nessa época começou meu vício pela sétima arte. Cursando a sétima série e com tempo de sobra, graças aos dias sem internet de outrora, contava com o bom gosto das emissoras de TV para saciar minha fome cinematográfica que era alimentada com três filmes por dia. Bom gosto da TV, sim, por que naquele tempo, a década de oitenta, não tínhamos também TV por assinatura e era muito comum a transmissão de grandes obras do cinema na programação normal, muitas vezes de madrugada, mas era facilmente disponível.


E então vi 2001 pela primeira vez! Achei uma droga! Não tinha entendido nada! Ingenuidade minha achar que aos 13 tenros anos e com um histórico breve de filmes, conseguiria perceber a proposta de uma mente tão complexa quanto à do diretor, Stanley Kubrick. Foi aí que vi o filme pela segunda vez! Desta vez aos 14 anos! Pouca diferença de idade, admito, mas com pelo menos uns 200 filmes mais experiente e com um caderno cheio com os filmes que tinha assistido, com minhas notas, resenhas e crítica. E veio o choque!


Percebi o que deveria ser óbvio para qualquer amante de cinema. Cinema é uma forma de arte audiovisual e como tal a estimulação desses sentidos é um de seus diferencias. Tinha visto muitos filmes com ótimos roteiros e ótimos atores antes disso, mas espetáculos visuais grandiosos não eram comuns até então. Claro, posso citar Ben-Hur ou até mesmo, E o Vento Levou..., mas o que era diferente e chocante com a obra de Kubrick era a junção da explosão visual e sonora aliada a um roteiro absurdo de tão sem sentido que estimulou a visão e a audição como nenhum outro filme na história!


Fiquei tão perdido em tentar entender o que acontecia que muitas vezes me deixei levar apenas pelas sensações. Homens primatas durante minutos, sem trilha sonora, sem texto, obviamente, e depois um grande monolito negro, do nada, com uma música assustadora, que descobri depois ser do compositor húngaro György Ligeti. Pouco depois, um osso, usado pela primeira vez como arma sendo arremessado em glória para o alto transformando-se em uma estação espacial e mais alguns minutos sem texto nenhum enquanto acompanhava a valsa espacial do Danúbio Azul! Neste momento tinha percebido que aquilo não um era filme, era um videoclipe!


E a sucessão de ataques audiovisuais era interminável! Seja uma simples respiração que vira trilha sonora, uma nave espacial imensa cruzando o espaço em direção à Júpiter ao som triste de um violoncelo, o bombardeio multicolorido da "viagem" de Keir Dullea ao futuro... são tantas sensações... neste ponto eu estava dando à mínima para o roteiro, que, por sinal, demorei um bom tempo para entender, assim como muita gente. Claro que ter assistido ao filme algumas dezenas de vezes e de ter lido o livro duas vezes, além de sua continuação, ajudou na compreensão.


Na verdade, 2001: Uma Odisséia no Espaço não precisa ser entendido! Precisa ser visto, ouvido! Sua força reside na sua complexidade e na perfeita interação entre som e imagem! É uma lição de cinema que deve ser conhecida! Se você não perceber o que se passa na mente de Kubrick, fique tranquilo, entender a visão de um gênio pode demorar alguns anos!

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