Sempre afirmo que meu filme favorito é 2001: Uma Odisseia no Espaço. E o motivo é simples. Foi a obra que me ensinou o que é cinema.
Tinha 13 anos e nessa época começou meu vício pela sétima arte. Cursando a sétima série e com tempo de sobra, graças aos dias sem internet de outrora, contava com o bom gosto das emissoras de TV para saciar minha fome cinematográfica que era alimentada com três filmes por dia. Bom gosto da TV, sim, por que naquele tempo, a década de oitenta, não tínhamos também TV por assinatura e era muito comum a transmissão de grandes obras do cinema na programação normal, muitas vezes de madrugada, mas era facilmente disponível.
E então vi 2001 pela primeira vez! Achei uma droga! Não tinha entendido nada! Ingenuidade minha achar que aos 13 tenros anos e com um histórico breve de filmes, conseguiria perceber a proposta de uma mente tão complexa quanto à do diretor, Stanley Kubrick. Foi aí que vi o filme pela segunda vez! Desta vez aos 14 anos! Pouca diferença de idade, admito, mas com pelo menos uns 200 filmes mais experiente e com um caderno cheio com os filmes que tinha assistido, com minhas notas, resenhas e crítica. E veio o choque!
Percebi o que deveria ser óbvio para qualquer amante de cinema. Cinema é uma forma de arte audiovisual e como tal a estimulação desses sentidos é um de seus diferencias. Tinha visto muitos filmes com ótimos roteiros e ótimos atores antes disso, mas espetáculos visuais grandiosos não eram comuns até então. Claro, posso citar Ben-Hur ou até mesmo, E o Vento Levou..., mas o que era diferente e chocante com a obra de Kubrick era a junção da explosão visual e sonora aliada a um roteiro absurdo de tão sem sentido que estimulou a visão e a audição como nenhum outro filme na história!
E a sucessão de ataques audiovisuais era interminável! Seja uma simples respiração que vira trilha sonora, uma nave espacial imensa cruzando o espaço em direção à Júpiter ao som triste de um violoncelo, o bombardeio multicolorido da "viagem" de Keir Dullea ao futuro... são tantas sensações... neste ponto eu estava dando à mínima para o roteiro, que, por sinal, demorei um bom tempo para entender, assim como muita gente. Claro que ter assistido ao filme algumas dezenas de vezes e de ter lido o livro duas vezes, além de sua continuação, ajudou na compreensão.
Na verdade, 2001: Uma Odisséia no Espaço não precisa ser entendido! Precisa ser visto, ouvido! Sua força reside na sua complexidade e na perfeita interação entre som e imagem! É uma lição de cinema que deve ser conhecida! Se você não perceber o que se passa na mente de Kubrick, fique tranquilo, entender a visão de um gênio pode demorar alguns anos!
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